quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Líder indígena critica argumentos de procurador na defesa de demarcação contínua

Luana Lourenço
Da Agência Brasil

Defensor da permanência dos grandes produtores de arroz na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, o tuxaua (cacique) José Brazão criticou a argumentação do procurador-geral da Republica, Antonio Fernando Souza, em defesa da manutenção da demarcação contínua da área, feita hoje (27) durante julgamento de ação no Supremo Tribunal Federal (STF).

"A defesa do procurador não me convenceu, quando ele falou que o laudo antropológico [que determinou a demarcação contínua] é legítimo. Não é. Sem desrespeitar o procurador, posso dizer categoricamente que ele não tem conhecimento dos fatos. O laudo é cheio de vícios, tenho certeza de que o procurador não leu, não tem conhecimento dos fatos", afirmou.

Brazão acompanha o julgamento ao vivo em uma televisão com serviço pago de captação por satélite, instalada em uma pequena tenda montada no Distrito de Surumu, no interior da Raposa Serra do Sol. Ao lado, cerca de 700 índios ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR) - que defende a saída dos produtores de arroz - rezam orações católicas e apresentam danças indígenas típicas enquanto aguardam a decisão do tribunal, que deve ficar para amanhã (28).

Segundo Brazão, a Sociedade de Defesa dos Indígenas Unidos de Roraima (Sodiu-RR) e outras entidades contrárias ao CIR fizeram um "estudo aprofundado" que aponta a divisão em ilhas como demarcação ideal para os 1,7 milhão de hectares da Raposa.

"Defendemos a soberania e a convivência com todos os brasileiros. O pessoal do CIR não sabe o que diz, eles estão fazendo mal para eles mesmos preferindo o isolamento", acrescentou a presidente da Aliança de Integração de Desenvolvimento dos Povos Indígenas de Roraima, favorável à permanência dos rizicultores, Deise Maria Rodrigues.

O tuxaua Brazão disse que, caso o STF mantenha a demarcação contínua, os índios ligados à Sodiu e aos arrozeiros não vão resistir com violência ou partir para o enfrentamento com os indígenas representados pelo CIR.

"Não temos intenção de gerar conflito aqui e sim de aguardar pacificamente o resultado e acatar a decisão do STF. Eles [CIR] estão trazendo pessoas para gerar um conflito", apontou. Ontem (26), o presidente da Sodiu, Sílvio da Silva, negociava com arrozeiros um ônibus para transportar apoiadores da entidade de Boa Vista até o Distrito de Surumu.

Cento e cinqüenta homens da Polícia Federal e pelo menos 40 da Força Nacional de Segurança estão na área para conter possíveis episódios de violência entre os grupos.

* do UOL Notícias

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